Para não esquecer...

ACABOU?

Acabou!!!! Acabou. Acabou? é o título de um texto muito interessante (no Público de hoje) de Pacheco Pereira sobre as mudanças políticas atuais. Considero-o muito interessante, independentemente de concordar com ele (embora concorde). Considero-o muito interessante sobretudo porque faz uma análise não linear (e -- não menos importante .., lúcida, até na adjetivação e nos elementos "históricos" que convoca para a argumentação).

Só duas (ou três) citações são suficientes, digo eu, para provar o que digo. Esta passagem, embora muito arguta, poderia fazer-nos crer estarmos perante um texto tendencioso:
Piu-pius governamentais que vivem no Twitter; irrevogáveis de geometria variável; o “impulsionador jovem” que aos saltos no palco dizia à assistência “ó meu, isso da história não serve para nada”; os “justiceiros geracionais” que queriam tirar as reformas aos pais e avós para em nome de uns abstractos filhos e netos as darem a “outros” pais e avós, bem vivos e presentes, em nome da “estabilidade do sistema financeiro”; os neo-malthusianos que nos encheram de simplismos gráficos em que se escolhiam os parâmetros e se excluíam outros para concluir que “não há alternativa”; os arrojados ultra-liberais, que queimam o valor dessa bela palavra de liberdade, e que proclamam que nunca, jamais e em tempo algum quereriam “casar” com as “esganiçadas” do Bloco, sem sequer perceber o que lhes diz o espelho; as mil e um personagens ridículos cuja desenvoltura vinha de terem poder, estarem encostados ao poder e entenderem que tinham impunidade para pisar os outros porque eram mais fracos e tinham menos defesas. Vamos todos dançar a tarantela para expulsar o veneno.
Mas Pacheco mostra ser tudo menos de vistas estreitas. Uma prova...
[...]na verdade, para “aquilo” já não é possível voltar, pode ser para outra coisa pior ou para outra coisa diferente, mas para o mesmo já não há caminho.
[...] Se o governo PSD-PP tivesse acabado nas urnas por uma vitória do PS mesmo tangencial, o efeito de ruptura estaria muito longe de existir, mesmo que o governo PS não fizesse muito de diferente do que o actual governo minoritário vai fazer. Foi a ecologia da vida política portuguesa que mudou[...].
...e só mais esta:
Acabou? 
Não. Há muita coisa que não acabou. Há um rastro de estragos, uns materiais e outros espirituais, que não vão ser fáceis ou sequer possíveis de superar numa geração. Sempre que um jornalista fizer a pergunta pavloviana de “quem paga?” ou “quanto custa?” só sobre salários, pensões e reformas, ou seja aquilo que interessa aos que tem menos e nunca faça a mesma pergunta em primeiro lugar, e muitas vezes único lugar, para tudo o resto, benefícios fiscais, impostos sobre os lucros, “resolução” de bancos, PPPs, swaps, etc. ainda não acabou. 
escrito por ai.valhamedeus

2 comentário(s). Ler/reagir:

Anónimo disse...

Concordo com o que ele escreveu e com o que disse durante a vigência do anterior Executivo. Só é pena ele ter tido vistas tão curtas aquando da convicção de que havia armas de destruição maciça no Iraque. E vejam aonde nos levou essa e outras convicções inabaláveis. Enfim, parece que aprendeu a lição.
Já se devia era ter retractado (deixem ficar o c porque aqui não se deve tirar; não quer dizer tirar o retrato), como o fez o Tony Blair, de má memória. O Barroso também não pediu desculpa. Mas o valor intelectual de um e outro não tem comparação. O do Pacheco deixa o do Barroso a anos-luz. Por isso é que considero a atitude do primeiro muito mais grave.
Zé do Boné

Anónimo disse...

Como a esquerda adora o Pacheco! Que bajuladores sem memória... Este homem que me parece ter sido próximo do cavaquismo e nesse reinado ter a visibilidade política que nunca repetiu, que é amigo da democracia mas gosta, quando o voto não lhe convém, que os governos sejam eleitos por decreto, ou na secretaria o que dá o mesmo, que andou lado a lado com a Manuela - uma das primeiras a decretar austeridade - e nada ganharam, que foram derrotados internamente pelo Passos... que agoirava que o Costa daria uma "banhada" a esses reles neoliberais Passos/Portas no plebiscito. E o que aconteceu? O Pacheco não substituiu o povo e perdeu novamente... agora rejubila com o golpe do Costa.
caramba, tanto ressabiamento, nem Nietzsche fez melhor... um pouco de modéstia não lhe ficava mal... e já agora um pouco mais de cultura democrática também não. Se calhar é por isso que a esquerda o adora.