Para não esquecer...

ILUSTRAÇÕES... DE UM OUTRO SENTIR * 68

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ODE MARÍTIMA
(…)
Parte-se em mim qualquer coisa. O vermelho anoiteceu. 
Senti demais para poder continuar a sentir. 
Esgotou-se-me a alma, ficou só um eco dentro de mim. 
Decresce sensivelmente a velocidade do volante. 
Tiram-me um pouco as mãos dos olhos os meus sonhos. 
Dentro de mim há um só vácuo, um deserto, um mar noturno. 
E logo que sinto que há um mar noturno dentro de mim, 
Sabe dos longes dele, nasce do seu silêncio, 
Outra vez, outra vez o vasto grito antiquíssimo. 
De repente, como um relâmpago de som, que não faz barulho mas ternura, 

Subitamente abrangendo todo o horizonte marítimo 
Húmido e sombrio marulho humano noturno, 
Voz de sereia longínqua chorando, chamando, 
Vem do fundo do Longe, do fundo do Mar, da alma dos Abismos, 
E à tona dele, como algas, boiam meus sonhos desfeitos...  
(…)
[Álvaro de Campos, Ode Marítima (excerto)]
[esta é a quinta de cinco ilustrações (de excertos) de Ode Marítima. A quarta está aqui].
foto, de ai.valhamedeus; escolha do poema, de Ana Paula Menezes.

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