Para não esquecer...

ILUSTRAÇÕES... DE UM OUTRO SENTIR * 67

[Clique na imagem, para a ver maior]
ODE MARÍTIMA
(…)
Ah, como pude eu pensar, sonhar aquelas coisas? 
Que longe estou do que fui há uns momentos! 
Histeria das sensações - ora estas, ora as opostas! 
Na loura manhã que se ergue, como o meu ouvido só escolhe 
As cousas de acordo com esta emoção - o marulho das águas. 
O marulho leve das águas do rio de encontro ao cais.... 
A vela passando perto do outro lado do rio, 
Os montes longínquos, dum azul japonês, 
As casas de Almada, 
E o que há de suavidade e de infância na hora matutina!... 

Uma gaivota que passa, 
E a minha ternura é maior. 

Mas todo este tempo não estive a reparar para nada. 
Tudo isto foi uma impressão só da pele, com uma carícia 
Todo este tempo não tirei os olhos do meu sonho longínquo, 
Da minha casa ao pé do rio, 
Da minha infância ao pé do rio, 
Das janelas do meu quarto dando para o rio de noite, 
E a paz do luar esparso nas águas! 
(…)
[Álvaro de Campos, Ode Marítima (excerto)]
[esta é a quarta de cinco ilustrações (de excertos) de Ode Marítima. A terceira está aqui. A quinta, aqui]
foto, de ai.valhamedeus; escolha do poema, de Ana Paula Menezes.

0 comentário(s). Ler/reagir: